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A internet e o livre comércio de produtos odontológicos

 
  
  É real o fato que a internet facilitou, facilita e continuará facilitando, ainda mais, a vida de todos nós. Hoje não conseguimos nos enxergar vivendo em um mundo sem essa tecnologia. Para a área de saúde, em especial para os profissionais da Odontologia, esta nova forma de consumo, oferece benefícios que vão da rápida aquisição de informações confiáveis e com densidade científica; passando pela troca de experiências entre nossos pares; até a agilidade da compra de produtos com qualidade técnica chancelada por órgãos governamentais, a partir de ambientes virtuais seguros ou  legalmente regulamentados. Por outro lado, esta rede de computadores espalhados em todo planeta, configura-se como um território de livre comércio e com um grande volume de informações inconsistentes, duvidosas e, frequentemente, com mero interesse de venda de itens que aparentam originalidade ou se apresentam como similares ou alternativas baratas aos produtos originais.

Isto é preocupante!

Frequentemente me deparo com relatos de colegas profissionais e de estudantes de Odontologia, que tiveram experiências negativas com produtos, ou equipamentos odontológicos, comprados em sites mundiais de vendas promocionais, por preço, muitas vezes,  menor que 1/3 do valor real do objeto, e com frete grátis; ou –  pasmem  – com a oferta gratuita do produto por apenas o pagamento do frete pelo comprador, o que consiste em uma taxa irrisória para um item que, quase sempre, vem do outro lado do mundo, ou percorre vários países, até chegar ao consultório do comprador.

Imigrantes ou nativos digitais, que tem no universo da internet a sedução da praticidade da navegação, compra por baixíssimos preços, facilidade de pagamento e comodidade na entrega, podem se deparar com itens como: canetas de alta rotação onde brocas não se adaptam ou saltam durante o uso; contra-ângulos que travam o giro no meio do procedimento; micromotores que deixam de funcionar com pouco tempo de uso; discos de lixa para acabamento e polimento que não desgastam e nem lustram adequadamente; matrizes metálicas ultra-finas e muito flexíveis que não cumprem o seu propósito; grampos para isolamento e estabilização de matrizes com acabamento rústico, sem memória elástica e que não conseguem se manter adaptados aos dentes; facetas pré-fabricadas que dizem ser de resina composta, mas não apresentam estética, resistência e adesividade próximas a este material; espátulas espessas e frágeis; escala de cor “HORIGINAL” (vamos assim escrever para caracterizar o que se diz original e é falso), onde um dente correspondente a cor próxima ao C2  encontra-se numa haste impresso B1; resinas compostas que alteram a cor e se deterioram com facilidade; “clareadores” que não sabemos a composição ou que são abrasivos; câmeras intra-orais com imagem aquém do esperado que logo deixam de funcionar; equipamentos de LED que superaquecem, baterias explodem ou possuem intensidade de luz abaixo do exigido para uma ativação da polimerização ideal; pincéis modeladores de resina em cerdas, látex ou teflon de origem duvidosa que pigmentam o material restaurador… Enfim, produtos que não nos trazem segurança de uso e que não temos o conhecimento se estão, ou não, contaminados com metais ou algum agente tóxico ao organismo.

Questiono-me o que pode existir por trás disso tudo? Um grande risco à vida!

Estes produtos não respeitam as normas brasileiras, não possuem garantia, nem qualidade técnica e podem afetar a saúde e segurança do profissional (que compra e utiliza) e do paciente (que usufrui de seus resultados negativos). Se estes produtos se caracterizarem como “produtos piratas”, podemos até dizer que existem danos coletivos com a compra dos mesmos: estímulo ou crescimento do crime organizado; sonegação de impostos que poderiam ser revertidos em obras sociais quando licitamente empregados pelo governo; concorrência desleal com empresas sérias que respeitam as leis, as pessoas e a saúde – o que gera prejuízos financeiros, falência e desemprego; sem falar nos possíveis danos ambientais.

No Brasil, um produto, para ser usado na área de saúde, sofre regulação, pela concessão do seu registro, na Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) / Ministério da Saúde, a qual realiza o  controle sanitário de todos os produtos e serviços (nacionais ou importados) usados legalmente no país, tais como medicamentos, cosméticos, saneantes, derivados do tabaco, produtos médicos – odontológicos, sangue, hemoderivados e serviços de saúde.

De acordo com a ANVISA, o registro é o ato legal que reconhece a adequação de um produto à legislação sanitária. Trata-se de um controle feito antes da comercialização, sendo utilizado no caso de produtos que possam apresentar eventuais riscos à saúde. Para que os produtos sujeitos à vigilância sanitária sejam registrados, é necessário atender aos critérios estabelecidos em leis e à regulamentação específica estabelecida pela Agência. Tais critérios visam minimizar eventuais riscos associados ao produto. Cabe à empresa fabricante ou importadora a responsabilidade pela qualidade e segurança dos produtos registrados junto à Anvisa.

Devemos sempre lembrar que o sucesso de qualquer procedimento odontológico depende de dois grandes atores: paciente e profissional. Aquele na responsabilidade do auto-cuidado e este no domínio científico, capacidade de diagnosticar, planejar e  habilidade técnica de executar o procedimento, bem como na curadoria, ou seja, na escolha correta dos instrumentais, materiais e equipamentos a serem empregados.

Quanto a esta escolha, levamos em conta a tecnologia dos itens que estamos adquirindo, a evidência clínica e científica do seu emprego; bem como os registros ou certificações legais dos mesmos, além da sua relação custo-benefício. Entre o caro e o barato que possuem a mesma tecnologia, certificações e resultados, obviamente que optamos pelo que for mais em conta, o que pode ser revertido em maior viabilidade de acesso ao tratamento odontológico para o paciente; mas quando o barato oferece um efeito inferior ou pouco duradouro, origem duvidosa, ausência de certificação, riscos à saúde e, até mesmo, à vida…   isto não se torna nada interessante! A frequência de investimento aumenta e o prejuízo é instalado para ambos (profissional e paciente).

Atentemos para as nossas responsabilidades profissionais e como seres humanos que respeitam o próximo e o meio ambiente.

Sejamos criteriosos com as nossas escolhas de compra e de emprego clínico.

Tenhamos zelo pela saúde e pela vida!

Em caso de dúvidas, consulte os produtos regularizados, no site da ANVISA: https://bit.ly/2Gmz8Xf

Prof. Dr. Claudio Heliomar

 
 
Especialista CFO

 
 
Mestre e Doutor em Dentística pela UPE

 
 
Professor Associado de Dentística e Clínica Integral da UFPE

 
 
Cirurgião-Dentista do CISAM/UPE

 
 
Coordenador do Curso de Especialização em Dentística CPGO/FACSET – Recife/PE

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